Transtorno de Personalidade Borderline, um cotidiano intenso e hipersensível

Caricaturado e amplamente subdiagnosticado, o Transtorno de Personalidade Borderline (BPD) afeta aproximadamente 4% da população. Geralmente é sinônimo de intenso sofrimento.

“Tenho essa energia, esse dinamismo, as pessoas adoram, mas não veem a face oculta do iceberg”, resume Francesca, que vive com TPB. Para ela, e como costuma acontecer, as primeiras manifestações do transtorno apareceram na adolescência.

“Foi além da tristeza, um sofrimento que eu não conseguia administrar e foi aí que comecei a me automutilar, para evacuar esse transbordamento emocional”, relata Francesca, que acrescenta que estava usando uma faquinha de cozinha para coçar o braço.

Observe que nem todos os meninos adolescentes e, mais comumente, todas as meninas adolescentes que se automutilam inevitavelmente desenvolvem BPD.

Um distúrbio temido ainda mais do que terrível

Para Nader Perroud, professor da Universidade de Genebra, médico associado e chefe da unidade de distúrbios de regulação emocional do HUG, o TPB é um dos transtornos mais estigmatizados na psiquiatria. “É muito desaprovado, não só pelos pacientes, mas também pelos cuidadores”, explica.

Uma das ilustrações dessa censura é criptografada. “Percebemos que 40% dos pacientes que vivem com BPD foram diagnosticados como portadores de transtorno bipolar”, especifica Nader Perroud. As explicações para esse viés são várias: além do estigma social, há também o fato de existirem medicamentos para o transtorno bipolar, mas não para o TPB.

O tratamento básico é, portanto, a psicoterapia. Existem programas especializados para o TPB que são muito eficazes, mas pouco conhecidos, até mesmo pelos psiquiatras. “É uma loucura não termos pessoas suficientes para cuidar desses pacientes porque é fácil de tratar”, lamenta o médico.

Uma relação especial com a morte

Dois números são emblemáticos da relação singular da TPB com a morte: 75% das pessoas que vivem com esse transtorno fazem uma ou mais tentativas de suicídio e 8% morrem.

Para Francesca, a ideia do suicídio permite-lhe reduzir a sua ansiedade: “Para mim a vida é difícil, a vida preocupa-me. Então esta opção de poder acabar com esta ansiedade tranquiliza-me”.

Francesca também desenvolveu uma relação quase terapêutica com suas tentativas de suicídio. De fato, no momento de suas tentativas, ela escreve uma carta de despedida para seus parentes e essa prática a apazigua.

Um distúrbio infantil?

Como geralmente acontece com os transtornos mentais, a origem do TPB é parcialmente hereditária e parcialmente relacionada à infância. Não se trata necessariamente de abuso ou maus-tratos, mas de forma mais ampla, de uma infância em um ambiente dito “invalidante”, ou seja, mal compreendido em suas emoções e em suas particularidades.

Esta é uma das razões pelas quais uma criança que vive com transtorno de déficit de atenção não diagnosticado corre o risco de desenvolver TPB. “Se a criança se mexe o tempo todo na aula, se incomoda todo mundo, vamos puni-la constantemente e seremos muito rapidamente levados a invalidar a experiência dessa criança. Depois de um tempo, ela diz para si mesma que é completamente zero, é uma auto invalidação”, detalha Nader Perroud.

Aspectos positivos?

Sem banalizar ou negar o sofrimento inerente ao TPB, esse transtorno oferece a quem o sofre alguns aspectos positivos: “Uma pessoa que convive com o TPB é muito mais sensível no nível emocional, mas também na expressão das emoções, do que um sujeito lambda” , especifica Nader Perroud.

“Esse fenômeno tem uma propensão para gerar artistas. Há uma infinidade de artistas limítrofes. Por exemplo, Amy Winehouse foi capaz de compartilhar suas emoções, sua experiência porque ela era limítrofe. Portanto, há essa tendência de poder fazer com que os mortais comuns experimentem coisas que eles não vivenciam todos os dias”, continua o médico.

Por seu lado, Francesca admite que não consegue imaginar viver uma vida monótona: “Preciso vibrar de facto! pode ser útil para acompanhar e ajudar as pessoas.”

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MARCELO PASCHOAL PIZZUT

 

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Marcelo Paschoal Pizzut
Psicólogo Clínico

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