Terapia Comportamental Dialética

Ilustração representando transtornos alimentares e terapia
Imagem ilustrativa sobre transtornos alimentares

Terapia Comportamental Dialética e Terapia de Aceitação e Compromisso para Transtornos Alimentares: Intolerância ao Humor como Alvo Comum de Tratamento

Autor: Marcelo Paschoal Pizzut

Nota do Autor: Como psicólogo especializado em transtornos alimentares, observei que a intolerância ao humor é um obstáculo comum para muitos pacientes. Neste artigo, resumo as descobertas de Erin J. Shumlich e complemento com insights clínicos para ajudar profissionais e pacientes a entenderem como a TDC e a TAC podem transformar o tratamento dessas condições.

Os transtornos alimentares, caracterizados por perturbações graves nos comportamentos alimentares e pensamentos e emoções relacionados, representam desafios significativos para o tratamento em saúde mental devido às suas altas taxas de mortalidade e resistência às terapias convencionais (Crow et al., 2009). No artigo Dialectical Behaviour Therapy and Acceptance and Commitment Therapy for Eating Disorders: Mood Intolerance as a Common Treatment Target, Erin J. Shumlich explora o potencial de duas terapias cognitivo-comportamentais de terceira onda — Terapia Comportamental Dialética (TDC) e Terapia de Aceitação e Compromisso (TAC) — no tratamento de transtornos alimentares, focando na intolerância ao humor, um fator crítico no início e na persistência dessas condições.

Compreendendo a Intolerância ao Humor nos Transtornos Alimentares

A intolerância ao humor, definida como a dificuldade em gerenciar estados emocionais intensos, é um elemento central na patologia dos transtornos alimentares. Shumlich destaca que comportamentos como restrição alimentar, compulsão alimentar ou ações compensatórias frequentemente funcionam como mecanismos de enfrentamento mal-adaptativos para estados de humor adversos (Fairburn et al., 2003). Terapias tradicionais, como a terapia psicodinâmica (TPD) e a terapia cognitivo-comportamental (TCC), têm sido menos eficazes em abordar a desregulação emocional e os déficits de habilidades prevalentes em indivíduos com transtornos alimentares, levando a problemas como não adesão ao tratamento e sintomas persistentes (Federici et al., 2012).

A TDC e a TAC, como terapias de terceira onda, oferecem alternativas promissoras ao focar em estratégias baseadas em mindfulness e aceitação. Ambas as terapias abordam a intolerância ao humor, embora por meio de mecanismos distintos: a TDC enfatiza a regulação emocional para gerenciar emoções intensas, enquanto a TAC concentra-se na redução da evitação experiencial, permitindo que os indivíduos aceitem pensamentos e sentimentos angustiantes sem recorrer a comportamentos alimentares desordenados (Linehan, 2014; Hayes et al., 2011).

Terapia Comportamental Dialética (TDC)

A TDC, originalmente desenvolvida por Marsha Linehan para casos de suicidalidade crônica, foi adaptada para tratar transtornos mentais complexos, incluindo transtornos alimentares marcados por desregulação emocional (Linehan, 1993). Shumlich observa que a TDC busca ajudar os indivíduos a inibir comportamentos inadequados desencadeados por emoções intensas, agir em alinhamento com objetivos externos em vez de impulsos movidos pelo humor, reduzir a excitação fisiológica por meio de técnicas de autossilenciamento e manter a consciência situacional durante o sofrimento emocional (Linehan, 2014). O componente de mindfulness na TDC, enraizado em práticas orientais, incentiva pacientes e terapeutas a tolerarem e vivenciarem emoções intensas sem reações mal-adaptativas, promovendo o controle consciente sobre respostas automáticas.

Terapia de Aceitação e Compromisso (TAC)

A TAC, desenvolvida por Steven Hayes e colaboradores, opera com uma abordagem ascendente baseada em pesquisas sobre sofrimento emocional e o papel da linguagem e da cognição (Hayes et al., 2011). Diferentemente da modificação clínica descendente da TDC, a TAC foca na aceitação experiencial, incentivando os indivíduos a viverem de acordo com seus valores, apesar da presença de pensamentos ou emoções angustiantes. No contexto dos transtornos alimentares, a TAC ajuda os indivíduos a aumentarem a flexibilidade psicológica, reduzindo a dependência de comportamentos alimentares desordenados como forma de escapar de estados emocionais indesejados (Sandoz et al., 2010).

Mecanismos Compartilhados e Abordagens Divergentes

Embora a TDC e a TAC compartilhem raízes cognitivas e comportamentais e enfatizem mindfulness e aceitação, suas abordagens à intolerância ao humor diferem. A estrutura da TDC prioriza a regulação emocional por meio da construção de habilidades, visando a incapacidade de modular pistas e respostas emocionais (Linehan, 2014). A TAC, por outro lado, busca alterar a função de cognições e comportamentos, promovendo a aceitação de experiências emocionais para alinhar ações com valores pessoais (Wilson et al., 2011). Apesar dessas diferenças, ambas as terapias convergem na promoção da tolerância ao humor, um mecanismo crítico para reduzir os sintomas dos transtornos alimentares.

Implicações para o Tratamento e Pesquisas Futuras

A revisão de Shumlich destaca a promessa da TDC e da TAC no tratamento de transtornos alimentares, especialmente para indivíduos com patologia grave que respondem mal às TPD e TCC tradicionais (Lenz et al., 2014). O foco na intolerância ao humor aborda um componente central da patologia dos transtornos alimentares, oferecendo uma abordagem terapêutica mais flexível e colaborativa. No entanto, Shumlich enfatiza a necessidade de mais pesquisas empíricas para validar essas descobertas e integrar a intolerância ao humor como um alvo padrão de tratamento.

Em conclusão, a TDC e a TAC representam abordagens inovadoras para o tratamento de transtornos alimentares ao abordar a intolerância ao humor por meio de técnicas baseadas em mindfulness e aceitação. Seu foco compartilhado em aumentar a tolerância emocional oferece esperança para melhorar os resultados do tratamento, pavimentando o caminho para intervenções mais eficazes para essa condição desafiadora de saúde mental.

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