A positividade tóxica é um conceito que tem ganhado destaque à medida que a nossa obsessão cultural pela felicidade se intensifica. Embora ser positivo e otimista possa, de fato, levar a uma vida mais satisfatória, o problema surge quando essa positividade é levada ao extremo. A positividade tóxica envolve a supressão ou negação de emoções negativas, onde qualquer expressão de angústia ou tristeza é considerada inaceitável ou desconfortável. A ideia por trás disso é que, ao simplesmente manter uma atitude positiva, é possível superar qualquer adversidade, independentemente das circunstâncias. No entanto, essa abordagem pode ser prejudicial, pois minimiza experiências emocionais genuínas e impede que as pessoas processem seus sentimentos de forma saudável.

Courtney Clark descreve a positividade tóxica como “uma postura forçada e falsa” que busca aparentar felicidade, mesmo quando emoções subjacentes são ignoradas. Trata-se essencialmente de uma pressão social para manter uma fachada de constante alegria, o que pode deixar os indivíduos se sentindo isolados e incompreendidos. Em vez de encorajar as pessoas a enfrentar e resolver suas dificuldades, a positividade tóxica exige que elas descartem suas lutas e se concentrem apenas no lado positivo. Essa abordagem pode invalidar as experiências de uma pessoa, sugerindo que seu sofrimento não é significativo ou digno de atenção. Como resultado, essa negação pode aprofundar a lacuna entre o estado atual da pessoa e a felicidade genuína.

O Impacto da Positividade Tóxica

A positividade tóxica tem implicações profundas para a saúde mental. Quando as pessoas são pressionadas a esconder ou suprimir suas verdadeiras emoções, elas podem sentir vergonha ou culpa por não corresponderem ao padrão irreal de felicidade constante. Essa supressão emocional pode exacerbar o estresse e potencialmente levar a problemas de saúde mental mais graves, como ansiedade ou depressão. Por outro lado, permitir espaço para emoções negativas pode ser uma parte vital do processo de cura, pois possibilita que os indivíduos confrontem e resolvam questões subjacentes.

Além disso, a positividade tóxica pode prejudicar relacionamentos. Quando alguém está passando por um momento difícil, oferecer frases prontas como “mantenha-se positivo” ou “tudo acontece por uma razão” pode parecer um gesto de apoio. No entanto, essas afirmações frequentemente são vistas como superficiais, fazendo com que a pessoa se sinta ainda mais isolada. Em vez de oferecer conforto, essas respostas podem invalidar os sentimentos do indivíduo, sugerindo que suas lutas não são legítimas. O verdadeiro apoio envolve empatia e escuta ativa, reconhecendo a dor da pessoa em vez de tentar apagá-la com simplificações excessivas.

O Papel da Sociedade e Tendências Culturais

O surgimento das redes sociais também desempenhou um papel significativo na promoção da positividade tóxica. Plataformas como Instagram e Facebook tendem a exibir versões idealizadas da vida, cheias de imagens filtradas e momentos cuidadosamente selecionados de alegria. Isso cria uma visão distorcida da realidade, onde apenas experiências positivas são compartilhadas, levando muitos a acreditarem que a felicidade é a norma e qualquer desvio disso é um fracasso pessoal. Como resultado, as pessoas podem sentir-se pressionadas a se apresentarem como constantemente felizes, contribuindo para um ciclo de supressão emocional e desconexão com seus sentimentos autênticos.

Além disso, as atitudes culturais em relação à positividade frequentemente se baseiam na crença de que emoções são uma questão de escolha. A noção de que alguém pode simplesmente “escolher” ser feliz ignora a complexidade das emoções humanas e o fato de que muitos fatores que influenciam o humor, como traumas, perdas ou até mesmo distúrbios de saúde mental, estão além do controle da pessoa. Embora uma mentalidade positiva possa ser uma ferramenta valiosa para a resiliência, isso não deve acontecer às custas de desconsiderar experiências negativas legítimas. As emoções são uma parte integral da experiência humana, e reconhecer esse fato é essencial para promover uma abordagem mais saudável para o bem-estar mental.

Quebrando o Ciclo da Positividade Tóxica

Para combater a positividade tóxica, é importante promover a honestidade emocional e criar espaços onde as pessoas se sintam seguras para expressar uma gama de emoções. Incentivar a autenticidade emocional não significa descartar o valor de uma perspectiva positiva; em vez disso, significa reconhecer que há um momento e lugar para tanto os sentimentos positivos quanto os negativos. Praticar a empatia e oferecer um apoio genuíno envolve ouvir sem julgamentos, validar as emoções da pessoa e permitir que ela processe suas experiências no próprio ritmo. Essa abordagem promove a resiliência, permitindo que os indivíduos enfrentem e lidem com suas dificuldades, em vez de simplesmente fingir que está tudo bem.

Courtney Clark enfatiza que não se pode “dar positividade a alguém” ou forçar a pessoa a adotar uma perspectiva diferente. Em vez disso, o apoio deve vir do encontro com as pessoas onde elas estão e da oferta de compaixão durante os momentos difíceis. Essa conexão genuína ajuda os indivíduos a se sentirem menos sozinhos em sua dor, permitindo que atravessem os desafios de forma mais eficaz do que se fossem pressionados a suprimir suas emoções. Ao abordar as emoções de forma autêntica, as pessoas têm mais chances de encontrar uma felicidade duradoura, em vez de uma sensação superficial de bem-estar.

Conclusão

Em resumo, a positividade tóxica é a insistência em manter uma fachada alegre, mesmo diante de adversidades. Embora a intenção por trás do incentivo a uma perspectiva positiva possa ser boa, a negação das emoções negativas pode ter efeitos prejudiciais para a saúde mental e para os relacionamentos. Isso cria uma cultura onde apenas a felicidade é aceitável, deixando aqueles que experimentam sofrimento se sentindo invalidados e incompreendidos. Para promover o verdadeiro bem-estar, é essencial reconhecer o espectro completo das emoções humanas, permitindo espaço tanto para sentimentos positivos quanto negativos.

O objetivo não deve ser eliminar a positividade, mas adotar uma abordagem equilibrada que abrace a autenticidade emocional. Ao fazer isso, podemos apoiar uns aos outros de uma forma que promova uma resiliência verdadeira e saúde mental, rompendo com as limitações da positividade tóxica e encontrando conexões mais significativas em nossas vidas. Como sugere Clark, é hora de rejeitar a positividade tóxica e focar no apoio real e na empatia, que realmente ajudam as pessoas a navegar por suas dificuldades.

Marcelo Paschoal Pizzut

Psicólogo Online

Clique aqui para lalar com o Dr Marcelo

Cadastro e-Psi – Psicólogas(os) cadastradas(os) para Atendimento on-line