Alucinações Verbais Auditivas no TPB
Entendendo e Reavaliando as Alucinações Verbais Auditivas no Transtorno de Personalidade Borderline: Uma Perspectiva Integrada de Percepção, Subjetividade e Neuroimagem
O estudo em questão aborda um aspecto fascinante e muitas vezes subestimado do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB): as alucinações verbais auditivas (AVA). Frequentemente, estas alucinações são percebidas pelos pacientes como originárias de dentro da cabeça, o que as torna complexas de entender e tratar. O estudo visa compreender melhor as expressões perceptivas, subjetivas e neurais das AVA em pacientes com TPB.
Metodologia
O estudo empregou uma combinação de tarefas de detecção auditiva, amostragem de experiência com questionários e neuroimagem funcional (fMRI). O objetivo era avaliar como os pacientes com TPB percebem e reagem a estímulos auditivos, particularmente vozes, e entender as correlações neurais dessas experiências.
Resultados Principais
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Percepção das AVA: Foi observado um viés significativo entre os participantes para relatar a presença de vozes em ruído branco. Isso sugere uma tendência a perceber estímulos auditivos ambíguos como vozes.
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Impacto Subjetivo: As medidas de questionário revelaram que as AVA eram significativamente angustiantes e persecutórias para os pacientes. A intensidade das AVA, mas não a origem percebida (interna vs externa), estava associada a uma maior ansiedade.
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Atividade Neural: A neuroimagem revelou que, em comparação com a imaginação ou a audição de vozes, períodos de AVA relatados induziram maior atividade dependente do nível de oxigenação do sangue em áreas corticais anteriores do cíngulo e temporais bilaterais, que são regiões envolvidas no processamento da linguagem. A gravidade dos sintomas das AVA estava associada a uma conectividade funcional mais fraca entre o córtex cingulado anterior e os córtices insulares bilaterais.
Conclusão
O estudo indica que as AVA em pacientes com TPB são caracterizadas por mecanismos perceptivo-cognitivos aberrantes para a detecção de sinais, experiências subjetivas de perseguição e angústia, e padrões distintos de atividade neural. Esses resultados são semelhantes aos observados em pacientes com esquizofrenia, reforçando a necessidade de tratar as AVA em TPB com a mesma seriedade que em outras condições psicóticas.
Importância Clínica
Este estudo destaca a importância de reconsiderar as AVA em TPB como prioridade no tratamento, dada a semelhança com experiências em outros transtornos do espectro psicótico. Ele desafia a noção de “pseudoalucinações” e enfatiza a necessidade de uma abordagem mais empática e informada no tratamento de pacientes com TPB que experienciam AVA.
Marcelo Paschoal Pizzut
Psicólogo Clínico
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