Cannabis e Psicose: Neurobiologia Parte 2
Cannabis e Desenvolvimento Neurológico: Uma Análise Detalhada
Por: Marcelo Paschoal Pizzut, especialista em Transtorno de Personalidade Borderline
Desenvolvimento cerebral durante a gravidez
Estima-se que 4% das mulheres nos EUA façam uso de substâncias ilícitas durante a gestação, sendo a maconha a substância mais consumida (75%). A preocupação se eleva ao considerarmos que um terço do THC, componente psicoativo da maconha, é transferido para o feto. Há evidências de que a maconha prejudica o desenvolvimento fetal e a exposição durante a adolescência pode interferir nos processos neuronais. Assim, a exposição pré-natal à cannabis pode impactar significativamente a maturação dos sistemas de neurotransmissores. Estudos indicam que bebês nascidos de usuárias têm maior propensão a tremores, reflexo de sobressalto exagerado e baixa habituação a novos estímulos.
Cannabis na adolescência
A adolescência é uma fase crucial para o desenvolvimento cerebral. O sistema endocanabinoide tem um papel crucial neste processo. Mudanças neste sistema induzidas pelo THC podem levar a alterações neurobiológicas sutis, porém duradouras. Pesquisas indicam que o consumo de cannabis nesta fase pode ser um fator de risco para psicoses. O início precoce do uso tem sido associado a prejuízos cognitivos.
Sistema endocanabinoide e receptores de cannabis
Este sistema é composto principalmente pelos receptores CB1 e CB2, que modulam a aprendizagem e são vitais para a memória de curto e longo prazo. O THC pode gerar déficits de memória de longa duração e este efeito é mediado principalmente pelo receptor CB1. A pesquisa nesta área tem potencial para desenvolver medicamentos que possam tratar a dependência de maconha.
Neuroquímica
Do ponto de vista neuroquímico, dois aspectos são claros: como o THC modula a neurotransmissão e seu papel na inibição da neuroplasticidade e neuroproteção. O sistema endocanabinoide modula a neurotransmissão inibitória e excitatória e exerce seus efeitos farmacológicos através da ativação dos receptores CB1 e CB2. O abuso de cannabis leva a uma série de alterações neuroplásticas. Usuários esporádicos apresentam níveis mais baixos de BDNF e neuregulina. O THC produz efeitos psicomiméticos, alterações perceptuais e comprometimentos na memória espacial. A relação entre canabinoides e BDNF pode ser o mecanismo que explica os efeitos da exposição à cannabis.
Em conclusão, a interação da cannabis com o desenvolvimento neurológico é multifacetada e requer uma compreensão profunda para mitigar seus efeitos adversos. É essencial prosseguir com pesquisas que aprofundem nosso entendimento sobre as consequências neuropsiquiátricas da exposição à cannabis, especialmente em fases críticas do desenvolvimento cerebral.
Marcelo Paschoal Pizzut
Psicólogo Clínico
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