Cannabis e Psicose: Neurobiologia Parte 1

Cannabis e Psicose: Uma Perspectiva Neurobiológica
Por: Marcelo Paschoal Pizzut, especialista em Transtorno de Personalidade Borderline

Com base em minha experiência enquanto especialista em Transtorno de Personalidade Borderline, eu gostaria de abordar a complexa relação entre o uso de cannabis e o desenvolvimento da esquizofrenia, uma área de pesquisa em expansão e importância crescente.

É bem aceito na comunidade científica que a cannabis pode atuar como um fator de risco para a esquizofrenia. Contudo, os meandros deste processo neurobiológico permanecem parcialmente envoltos em mistério. Ao mergulhar neste artigo, pretendemos lançar luz sobre um possível caminho para o desenvolvimento da psicose, tendo como catalisador o uso da cannabis.

Ao examinar as nuances neurobiológicas associadas ao consumo desta planta, observamos certas semelhanças com padrões identificados em pacientes esquizofrênicos. Porém, é crucial sublinhar que tais semelhanças não garantem, por si só, a evolução para a esquizofrenia. Existem muitos indivíduos que, mesmo apresentando tais características neurobiológicas, não manifestam o transtorno.

Sabe-se que a cannabis é protagonista em cerca de metade dos casos de psicose, esquizofrenia e outras variações psicóticas. O Delta-9-tetrahidrocanabinol, mais conhecido como THC, é o principal componente psicoativo desta planta. O THC liga-se ao receptor canabinoide tipo-1 (CB1) no cérebro, um mecanismo que tem despertado interesse substancial em estudos neuropsiquiátricos.

A maneira como visualizamos a esquizofrenia tem sofrido mudanças significativas nos últimos anos. Hoje, consideramos que a doença é desencadeada por uma combinação de fatores. A cannabis, neste contexto, emerge como uma “causa componente”. Dados recentes indicam que, em populações expostas à cannabis, a psicose tem uma prevalência de 31%, enquanto entre os não expostos é de 20%.

Existem múltiplas teorias em jogo aqui, desde considerações sociodemográficas até a hipótese da “automedicação”. Um ponto notável é que o uso precoce de cannabis (antes dos 17 anos) parece ter implicações significativas na estrutura cerebral.

Em síntese, mesmo que a evidência aponte a cannabis como um fator potencial no desenvolvimento da psicose, a verdadeira natureza de sua interação neurobiológica com a esquizofrenia ainda é uma fronteira a ser explorada. Em minha experiência com o Transtorno de Personalidade Borderline, sei o quão essencial é continuar pesquisando e compreendendo as intricadas relações entre substâncias e transtornos mentais.

Marcelo Paschoal Pizzut

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Marcelo Paschoal Pizzut
Psicólogo Clínico

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