A Origem Multifatorial do TPB
A Origem Multifatorial do Transtorno de Personalidade Borderline: Uma Integração de Fatores Genéticos, Ambientais e Neurobiológicos
Introdução
O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é um transtorno psiquiátrico complexo, caracterizado por instabilidade emocional, impulsividade, autoimagem pobre, e dificuldades nas relações interpessoais (American Psychiatric Association, 2013). A etiologia do TPB é multifatorial, e acredita-se que resulte de uma interação entre fatores genéticos, ambientais e neurobiológicos. Esta revisão explora a evidência científica subjacente a cada um desses fatores e sua contribuição para o desenvolvimento do TPB.
Fatores Genéticos
Estudos de gêmeos e familiares sugerem que a predisposição genética desempenha um papel significativo na etiologia do TPB. Uma meta-análise de estudos de gêmeos indicou que aproximadamente 42% da variabilidade na manifestação de TPB pode ser atribuída a fatores genéticos (Distel et al., 2009). Os genes que afetam a neurotransmissão de serotonina e a regulação do estresse, por exemplo, têm sido implicados em TPB (New et al., 2008).
Fatores Ambientais
Experiências adversas na infância, incluindo abuso físico, sexual, negligência e separação parental, são relatadas com maior frequência por indivíduos com TPB (Bandelow et al., 2005). Tais experiências podem contribuir para o desenvolvimento de TPB, afetando a capacidade do indivíduo de regular emoções e estabelecer relações interpessoais saudáveis.
Fatores Neurobiológicos
Como mencionado anteriormente, o TPB também está associado a alterações na estrutura e funcionamento do cérebro, especialmente nas áreas responsáveis pela regulação emocional e controle de impulsos (Ruocco & Carcone, 2016). Há evidências de alterações no volume da amígdala e hipocampo, bem como na conectividade funcional entre o córtex pré-frontal e a amígdala (Donegan et al., 2003; Driessen et al., 2000).
Interação Entre Fatores
É importante notar que os fatores genéticos, ambientais e neurobiológicos não atuam isoladamente. Eles estão inter-relacionados de maneiras complexas. Por exemplo, indivíduos com predisposição genética para o TPB podem ser mais vulneráveis aos efeitos de experiências traumáticas na infância, que por sua vez podem contribuir para alterações neurobiológicas (Carpenter & Trull, 2013).
Conclusão
O Transtorno de Personalidade Borderline é o resultado de uma complexa interação entre fatores genéticos, ambientais e neurobiológicos. Entender essa interação é fundamental para o desenvolvimento de abordagens de tratamento eficazes e personalizadas.
Referências
American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). Washington, DC: Author.
Bandelow, B., Schmahl, C., Falkai, P., & Wedekind, D. (2005). Borderline personality disorder: A dysregulation of the endogenous opioid system? Psychological Review, 112(2), 623-636.
Carpenter, R. W., & Trull, T. J. (2013). Components of emotion dysregulation in borderline personality disorder: a review. Current Psychiatry Reports, 15(1), 335.
Distel, M. A., Willemsen, G., Ligthart, L., Derom, C. A., Martin, N. G., Neale, M. C., … & Boomsma, D. I. (2009). Genetic covariance structure of the four main features of borderline personality disorder. Journal of personality disorders, 23(4), 428-443.
Donegan, N. H., Sanislow, C. A., Blumberg, H. P., Fulbright, R. K., Lacadie, C., Skudlarski, P., … & Wexler, B. E. (2003). Amygdala hyperreactivity in borderline personality disorder: implications for emotional dysregulation. Biological psychiatry, 54(11), 1284-1293.
Driessen, M., Herrmann, J., Stahl, K., Zwaan, M., Meier, S., Hill, A., … & Petersen, D. (2000). Magnetic resonance imaging volumes of the hippocampus and the amygdala in women with borderline personality disorder and early traumatization. Archives of General Psychiatry, 57(12), 1115-1122.
New, A. S., Hazlett, E. A., Newmark, R. E., Zhang, J., Triebwasser, J., Meyerson, D., … & Buchsbaum, M. S. (2008). Laboratory induced aggression: a positron emission tomography study of aggressive individuals with borderline personality disorder. Biological psychiatry, 66(12), 1107-1114.
Ruocco, A. C., & Carcone, D. (2016). A neurobiological model of borderline personality disorder: Systematic and integrative review. Harvard Review of Psychiatry, 24(5), 311-329.
Marcelo Paschoal Pizzut
Psicólogo Clínico
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