Dissociação em TPB

 Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é um transtorno psiquiátrico grave, caracterizado por instabilidade emocional, comportamento impulsivo e relações interpessoais turbulentas. Uma característica notável do TPB é a presença de sintomas dissociativos, que são experiências perturbadoras de desconexão entre pensamentos, memórias, sentimentos, ações ou sensação de identidade.

Os sintomas dissociativos podem variar em gravidade e podem incluir experiências como despersonalização, onde a pessoa sente-se desconectada de si mesma ou de seu corpo, ou desrealização, onde o ambiente parece irreal ou distante. Também podem ocorrer episódios de amnésia dissociativa, em que o indivíduo não consegue se lembrar de eventos ou informações pessoais significativas.

A presença de sintomas dissociativos no TPB foi confirmada em vários estudos. Por exemplo, Korzekwa et al., (2009) descobriram que a dissociação é comum entre os pacientes com TPB, particularmente em resposta ao estresse. Em outra investigação, Stiglmayr et al., (2008) concluíram que a dissociação no TPB é uma resposta a emoções negativas intensas, servindo como uma maneira de regular ou escapar desses sentimentos.

A relação entre a dissociação e a regulação emocional é uma área de particular interesse na pesquisa do TPB. A dissociação pode ser vista como uma estratégia de enfrentamento mal adaptativa, usada para evitar a experiência de emoções dolorosas ou esmagadoras (Zanarini et al., 2000). No entanto, a longo prazo, isso pode aumentar a vulnerabilidade à angústia emocional e contribuir para a instabilidade emocional característica do TPB.

A compreensão e o tratamento dos sintomas dissociativos são, portanto, uma parte importante do manejo do TPB. Algumas abordagens terapêuticas, como a Terapia Dialética Comportamental (DBT) e a Terapia Focada em Mentalização (MBT), incluem estratégias específicas para abordar a dissociação. Por exemplo, a DBT inclui técnicas de mindfulness e tolerância ao desconforto para ajudar os indivíduos a permanecerem presentes e engajados durante momentos de intensa angústia emocional, em vez de recorrerem à dissociação (Linehan, 1993).

Os sintomas dissociativos são um aspecto importante e desafiador do TPB. Uma melhor compreensão desses sintomas pode melhorar o tratamento e o prognóstico para indivíduos com este transtorno complexo.

Além dessas experiências dissociativas mais comuns, algumas pessoas com TPB podem experimentar episódios dissociativos mais graves, que podem incluir confusão, alucinações, ou mesmo uma sensação de estar observando-se de uma perspectiva de terceira pessoa. Esses episódios, muitas vezes, ocorrem em resposta a um estresse intenso ou traumático e podem durar de minutos a horas.

O tratamento desses sintomas dissociativos é crucial, dado que a dissociação no TPB tem sido associada a uma maior gravidade do transtorno, maior risco de suicídio e pior prognóstico geral (Paris, 1998). As abordagens de tratamento devem ser multimodais, incluindo psicoterapia, estratégias de autogestão e, possivelmente, medicação. A educação sobre a dissociação e suas conexões com o trauma e o estresse também é uma componente vital do tratamento.

Na psicoterapia, as técnicas podem incluir intervenções que ajudam o indivíduo a manter a consciência da realidade durante episódios dissociativos, a identificar e gerenciar os gatilhos da dissociação, e a desenvolver habilidades mais adaptativas para lidar com o estresse e a angústia.

Além disso, estudos têm sugerido que a dissociação pode funcionar como um mecanismo de defesa, ajudando o indivíduo a se distanciar de memórias traumáticas ou de emoções esmagadoras. Nesse caso, o tratamento do trauma subjacente pode ser uma parte importante do tratamento dos sintomas dissociativos (Cloitre et al., 2002).

Em resumo, os sintomas dissociativos no TPB são uma área importante e complexa de pesquisa e tratamento. Embora haja ainda muito a aprender sobre esses sintomas, as abordagens de tratamento atualmente disponíveis podem oferecer uma ajuda significativa para os indivíduos que lutam com essas experiências desafiadoras.

Referências:

Korzekwa, M. I., Dell, P. F., Links, P. S., Thabane, L., & Webb, S. P. (2009). Dissociation in borderline personality disorder: a detailed look. Journal of Trauma & Dissociation, 10(3), 346-367.
Stiglmayr, C. E., Shapiro, D. A., Stieglitz, R. D., Limberger, M. F., & Bohus, M. (2001). Experience of aversive tension and dissociation in female patients with borderline personality disorder – a controlled study. Journal of psychiatric research, 35(2), 111-118.
Zanarini, M. C., Ruser, T., Frankenburg, F. R., Hennen, J., & Gunderson, J. G. (2000). Risk factors associated with the dissociative experiences of borderline patients. The Journal of Nervous and Mental Disease, 188(1), 26-30.
Linehan, M. M. (1993). Cognitive-behavioral treatment of borderline personality disorder. New York: Guilford Press.

Paris, J. (1998). Does childhood trauma cause personality disorders in adults?. Canadian Journal of Psychiatry, 43(2), 148-153.
Cloitre, M., Stolbach, B. C., Herman, J. L., van der Kolk, B., Pynoos, R., Wang, J., & Petkova, E. (2009). A developmental approach to complex PTSD: Childhood and adult cumulative trauma as predictors of symptom complexity. Journal of Traumatic Stress, 22(5), 399-408.

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Marcelo Paschoal Pizzut
Psicólogo Clínico

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