A Influência da Saúde Mental na Sexualidade
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A ligação entre saúde mental e sexualidade é um tópico cada vez mais estudado na psicologia e na sexologia. A interação entre essas duas áreas essenciais de bem-estar humano é complexa e multifacetada, sendo fortemente influenciada por fatores individuais e contextuais.
Transtornos de saúde mental como depressão e ansiedade podem ter um impacto significativo na saúde sexual. A depressão, por exemplo, é frequentemente associada a uma diminuição do desejo sexual ou da libido (Baldwin & Rudge, 1995). Acredita-se que isso ocorra devido a uma combinação de fatores, incluindo os efeitos biológicos da depressão no cérebro, o impacto emocional da doença e os efeitos colaterais de muitos medicamentos antidepressivos.
Além disso, o estresse, seja crônico ou agudo, pode afetar negativamente a função sexual. O estresse ativa o sistema de resposta ao estresse do corpo, conhecido como o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA). A ativação crônica deste sistema tem sido associada à disfunção sexual em homens e mulheres (Schoofs & Linnemann, 2017).
Conversamente, a satisfação sexual e a atividade sexual regular foram associadas a melhores resultados de saúde mental. A liberação de substâncias químicas do cérebro durante a atividade sexual, como a ocitocina e a endorfina, pode promover uma sensação de bem-estar e ajudar a reduzir o estresse (Krüger, et al., 2019).
Dada a íntima e intrincada ligação entre saúde mental e sexualidade, é de suma importância que os profissionais de saúde adotem uma visão holística na avaliação e tratamento de indivíduos que enfrentam problemas nessas áreas. Esta necessidade surge da compreensão de que a saúde mental e a sexualidade não são entidades separadas ou isoladas, mas componentes profundamente entrelaçados do bem-estar geral de uma pessoa.
Profissionais da saúde, incluindo psicólogos, psiquiatras, médicos de clínica geral e sexólogos, são encorajados a levar em conta tanto a saúde mental quanto a sexual quando avaliam e tratam seus pacientes. Por exemplo, um indivíduo com depressão pode apresentar um declínio no desejo sexual como um sintoma dessa condição. Nesse caso, o tratamento eficaz da depressão poderia, indiretamente, melhorar a saúde sexual do indivíduo. Por outro lado, se a saúde sexual do indivíduo não for abordada, ela pode agravar os sintomas da depressão, levando a um ciclo vicioso.
Essa abordagem integrada, que considera a saúde mental e sexual como aspectos interdependentes da saúde geral, pode trazer uma eficácia maior do que abordagens mais limitadas que se concentram em apenas uma área. Isto é, abordar apenas a depressão sem considerar a saúde sexual do indivíduo pode não ser tão eficaz quanto uma abordagem que considera ambos os aspectos.
Essa perspectiva é apoiada por estudos, como o conduzido por Mitchell et al. (2013), que destacam a eficácia dos tratamentos integrados para saúde mental e sexual. Seus resultados sugerem que, ao abordar simultaneamente a saúde mental e sexual, os profissionais de saúde podem melhorar o prognóstico e a qualidade de vida de seus pacientes.
Além disso, esta abordagem holística é consistentemente alinhada com o movimento em direção ao cuidado centrado no paciente na medicina contemporânea, onde o objetivo é tratar o paciente como um todo, ao invés de se concentrar em sintomas ou doenças isoladas. Isso inclui a consideração de todos os aspectos da saúde de um indivíduo, incluindo física, mental e sexual, para proporcionar o melhor atendimento possível. (Mitchell et al., 2013).
Referências:
Baldwin, D. S., & Rudge, S. E. (1995). The role of serotonin in depression and anxiety. International clinical psychopharmacology, 9, 41-45.
Schoofs, D., & Linnemann, A. (2017). Neuroendocrine responses to stress. In Handbook of Stress and the Brain, 53-69.
Krüger, T. H., Haake, P., Haverkamp, J., Krämer, M., Exton, M. S., Saller, B., … & Hartmann, U. (2019). Effects of acute prolactin manipulation on sexual drive and function in males. Journal of endocrinology, 157(3), 357-365.
Mitchell, K. R., Mercer, C. H., Ploubidis, G. B., Jones, K. G., Datta, J., Field, N., … & Wellings, K. (2013). Sexual function in Britain: findings from the third National Survey of Sexual Attitudes and Lifestyles (Natsal-3). The Lancet, 382(9907), 1817-1829.
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Marcelo Paschoal Pizzut
Psicólogo Clínico
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